Iniciei minha carreira profissional no departamento de criação de uma agência aos quinze anos de idade. Sem qualquer formação direcionada, tive que estabelecer meus próprios métodos de trabalho. Recordo do primeiro Briefing que recebi. Um escritório de Auditoria e Consultoria. Eu sabia superficialmente que se tratava de um escritório de advogados, mas diante da minha inexperiência de vida, resolvi estudar o que fazia uma empresa de auditoria, antes de sentar ao computador para trabalhar. Lembrando que não existia internet na agência em 1998.
Esta saída que busquei diante de uma dificuldade, se tornou um hábito. Dentro do mercado de propaganda, é comum perceber que departamentos não conversam entre si, desenvolvem suas etapas de trabalho de maneira isolada. Em geral, diretores de arte fazem arte. Mas a arte por si só, pode ser tão pobre quanto um trabalho sem design. Desde muito cedo, percebi a importância que meus estudos sobre o cliente tinham no resultado final, não somente como base de informações, mas como alteravam completamente a concepção do meu trabalho como Diretor de Arte. Nada em meu trabalho estava ali por ser bonito ou estiloso. Tudo tinha uma função prática e específica. Tudo era aplicado estrategicamente buscando estabelecer uma comunicação com o consumidor.
Não consigo imaginar um trabalho eficiente que faça um caminho diferente disso. Então, ao longo dos anos fui me aperfeiçoando na área estratégica. Estudei o comportamento humano, me interessavam muito mais as aulas de sociologia, do que os novos gadgets da Apple. Me interessava muito mais a visão que Steve Jobs tinha sobre a aplicação do design como uma solução estratégica comportamental, do que a área de engenharia. Me interessava a inspiração, mais do que a obra. Ao mesmo tempo vivi uma realidade onde estratégia muitas vezes era vista como perda de tempo, quando na verdade torna o trabalho muito mais preciso, eficaz e organizado. Foi assim que implementei por onde passei, metodologias de trabalho muito mais inteligentes e rentáveis.
Percebi também outra característica que aplicava naturalmente ao meu trabalho. Como o design pode se fundir ao pensamento estratégico e funcionar não somente como linguagem ao consumidor, proporcionando melhor engajamento, interação e consumo, como um mecanismo de comunicação com todas as partes envolvidas no processo. Do cliente para a agência, passando por fornecedores, por terceirizações, por colaboradores, antes mesmo de estabelecer uma comunicação com o cliente final. Todas as áreas envolvidas no processo precisam ser impactadas da mesma forma, com a mesma intensidade, gerando um engajamento coletivo.
Sou um estrategista com capacidades criativas. Um estrategista que utiliza a Direção de Criação e Arte, como uma ferramenta. Estabeleci uma comunicação muito próxima entre estrutura e forma, pois faço ela dentro da mesma cabeça, sem precisar intermediários que causam ruído no processo. Para não centralizar todo o trabalho em mim, nas empresas que atuei eu condicionei a equipe a fazer o mesmo processo. Entender que não podemos limitar nossas ações pelo cargo que nos enquadram. Assim como nos estudos da mente humana, hoje nossas características fazem parte de um espectro muito mais amplo.
Meu trabalho consiste em percorrer o atendimento, o planejamento, a estratégia, o financeiro, a produção, para que tudo isso levado em consideração antecipadamente, passe a ser um parâmetro do meu pensamento criativo. Hoje sei que a maior importância do meu trabalho está em ter refinado meu olhar para uma visão muito mais ampla, de tudo que constrói uma ação eficaz. Planejamento estratégico não é um método, não é uma função, não é um conhecimento técnico ou acadêmico, estratégia é um estado mental.